terça-feira, 1 de junho de 2010

Filosofia: "A medicina da alma"

A medicina da alma
Pablo Capistrano
         
            No Mito de Sísifo, o escritor francês Albert Camus aponta: “Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma questão fundamental da filosofia”.
            Estar vivo é experimentar um pequeno intervalo de tempo entre a infância e a velhice. Uma boa parte das pessoas passa esse curto intervalo de tempo sem saber “o porquê”. Essas pessoas apenas existem como as pedras e as plantas. Fazem parte da paisagem. São ligadas à terra que as pariu com vínculos tão poderosos que não sentem toda a dimensão da própria vida, nem toda a fúria e a ansiedade que esse intervalo de tempo apresenta. Algumas pessoas fazem a pergunta fundamental: “Por quê?” O que significa: Apostar todo dia de manhã que a vida vale a pena?
            Epicuro entendia que uma das funções fundamentais da filosofia era a cura da doença da alma. Do mesmo modo que a medicina (...) curava o corpo, a filosofia contribuía para o desenvolvimento de um estado de pacificação do espírito.
            A prática da filosofia e da medicina levaria o sábio mais próximo de um estado de ataraxia e de aponia. Falta de perturbação na alma e falta de dor no corpo. Mas o intervalo de tempo entre a infância e a velhice que os humanos costumam chamar de “vida” é cheio de dor e sofrimento. Boa parte do tempo que você passa na terra tem a ver com a luta para evitar a dor que é inerente à nossa passagem nesse mundo.
            Você trabalha para ganhar dinheiro e ganha dinheiro para não morrer de fome, frio ou de doença. Você se esforça para ficar bonito para não sofrer com a solidão e luta para manter o vigor físico depois de certa idade para não perder a autonomia. Essa é a nossa comédia. Viver em constante luta contra o tempo, jogando xadrez com a morte, na certeza de que cada jogada é apenas um adiamento do xeque-mate.
            Epicuro buscou responder à questão: “Como é possível ser feliz em circunstâncias tão adversas?”
            A primeira idéia é a de que a felicidade não é um estado de espírito, mas um momento decorrente de uma prática, de um conjunto de hábitos. Eu nunca poderei “ser” feliz. A felicidade não é um estado de “ser”. Eu posso estar feliz quando eu estou sereno, e antes de qualquer coisa estar sereno é estar saudável.
            Estar feliz é estar envolto num momento que decorre de um longo esforço de superação dos próprios medos e de gerenciamento dos próprios prazeres. Para Epicuro, nossa perturbação mental derivaria de quatro fontes fundamentais: medo da morte, medo do castigo divino, medo da dor e do sofrimento e, finalmente, a dificuldade em gerenciar o próprio desejo.
            Todas essas fontes da doença da alma criam instabilidade, fraturam o equilíbrio do espírito e podem levar, facilmente, qualquer homem a um estado de desespero. A ciência moderna nos deu inúmeras pílulas mágicas que podem alterar o funcionamento de nosso cérebro e produzir estados de serenidade química. Isso talvez seja útil em estados patológicos avançados da doença da alma que podem nos arrastar para o suicídio.
            Mas não são suficientes. A resposta à pergunta fundamental de Camus não se encontra numa farmácia. Esta nos ajudar a recuperar a quantidade mínima de ausência de dor no corpo e de falta de perturbação na alma para que não sucumbamos ao desconforto de estarmos vivos e apressemos aquilo que sempre chega... Mas ela não basta porque não está embutido em nenhuma bula de remédio o conjunto de práticas e de atitudes mentais que me levam a recuperar minha serenidade e, com ela, minha saúde.
            Epicuro nos ensinou, na antiguidade profunda de uma Grécia em decadência, um modo de educar a nossa mente para que as idéias que reforçam o pânico não nos destruam.
            Diante do suicídio do poeta russo Serguei Iessiénin, Maiakovski, outro suicida ilustre, ofereceu uma resposta epicurista para o dilema de Camus: Para o júbilo // o planeta está imaturo // é preciso arrancar a alegria ao futuro. // Nesta vida / morrer não é difícil.// O difícil é a vida e seu ofício.
            COM BASE NA LEITURA DO TEXTO ACIMA, PROCURE RESPONDER CONFORME SE PEDE.
1.0   Para Camus, qual é o problema filosófico verdadeiramente sério?
2.0   Para o autor do texto, o que o suicídio representa?
3.0   O que significa “estar vivo”, segundo o autor?
4.0   Algumas pessoas fazem parte da paisagem. O que isso significa?
5.0   Para Epicuro qual é uma das funções fundamentais da filosofia?
6.0   Como é possível ser feliz em circunstâncias tão adversas?
7.0   Para Epicuro, nossa perturbação mental derivaria de quatro fontes fundamentais, quais são elas?
8.0   Faça um pequeno texto, de 15 a 30 linhas, dando sua opinião a respeito do suicídio. Ou escreva um texto explicando: o que significa apostar todo dia de manhã que a vida vale a pena?

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