quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Poema


morto de fome

Mário Márcio de Quadros



quando pedi a sua mão

as minhas mãos suaram frio



a propósito



eu não estava nervoso

estava era com o estômago vazio.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Poema

                                   Olhos arregalados

Mário Márcio de Quadros 

Entretidos

Somos estrangeiros

A nós mesmos...























São João Del-Rei, fevereiro de 1978.

Poema

PELAS TANTAS

Mário Márcio de Quadros


Portas e janelas escancaradas.

No chão: pontas de cigarro.

Ao som de Caetano,

Corro os olhos em Cecília.


Lá pelas tantas

E às margens de Iracema,

Antes de qualquer coisa

Mais vaga e solúvel

Tomo um porre e adormeço.
        

[Talvez eu viva em abandono,

Por obra e graça de minha ausência...]

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

NÃO SE APRENDE POR OSMOSE

Crônica do Professor
Mário Márcio de Quadros

     É possível que, hoje em dia, estudar e se dedicar aos estudos não faça parte do universo simbólico de nossos jovens. Independentemente de serem ou não de escola pública, nossa juventude não lê. E quando lê, não entende o que leu, por falta de hábito, talvez. Por isso, “não tem idéias”. Escreve e se expressa oralmente de forma precária. Estudar exige disposição, interesse, leitura atenta e cuidadosa. Estudar exige concentração, trabalho, disciplina, paciência, renúncia...

     Aprender a ler e escrever; saber as quatro operações e decorar a tabuada, por exemplo, exigem esforço pessoal. Aliás, crescer e evoluir como ser humano é um ato solitário e doloroso. Estudar faz parte desta evolução e desta dor. Não posso esperar que os outros estudem ou sofram por mim. Pode não ser agradável sofrer. E o estudo regular pode não fazer parte da realidade de nossos alunos. Claro, são crianças e jovens: precisam [e devem] brincar e se divertir. Mas é lamentável vê-los à-toa o dia inteiro, apenas brincando e se divertindo, inclusive na escola. São incapazes de pegar um livro para ler, de arrumar a casa, lavar a louça, ou estender a própria cama, por exemplo.

     Nosso adolescente deve ser ocupado com coisas simples de seu dia-a-dia. Deve se sentir integrado em sua família e comunidade. Do contrário, será presa fácil das drogas, dos traficantes e da violência urbana. Pior, pode vir a ser um aluno problema. Um problema cuja solução será cobrada, essencialmente, do educador. Por mais que os Conselhos Tutelares sejam acionados, a responsabilidade final será da Escola e de seus profissionais, sobretudo do professor.

     Nossa criança e adolescente necessitam ser cobrados. Nosso jovem precisa traçar metas e objetivos claros de vida. Criança, da Pré-Escola ao Ensino Médio, acreditará na educação quando acreditar nela mesma. Quando se sentir cobrada e exigida pela comunidade escolar, na condição de sujeito da própria história. Só assim, tornar-se-á competente. Sentir-se-á capaz de enfrentar a vida e seus desafios. Não podemos responsabilizar os professores, e apenas eles, pelo sucesso ou fracasso do ensino-aprendizagem. Ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas aprendem se quiserem e estiverem dispostas e determinadas a isto. Não se faz milagres na educação. Não se aprende por osmose.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Haicais (primeiras lições)

Haicais (Primeiras lições)

I

Ah! Ipê florido.
Debutante casadoira
Espera marido...



IV
Cigarras, formigas...
Êta história antiga!
'Inda são inimigas...



VI
Noite de verão:
Frescor de haver chovido
Um dia de Sol...



        

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Poema

Para brincar de ler...

Mário Márcio de Quadros

Paula é mineira. Paulinha é menina. Paula, também...

Paula proseia, pula e canta. Paulinha boceja, feito criança.

Paula cochicha. Paulinha cochila. Paula, também...

Paulinha amanhece. Paula madruga.

Paula é poeta. Paulinha, invenção. Paula, também?

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poema

SEGREDO


Mário Márcio de Quadros

Sou um


Artigo


(i n d e f i n i d o)


Por definição.




Sou um

Mundo de palavras

(em pessoa e abstração)




Sou







Silêncio e solidão.




Sou






O segredo das mãos...





São João Del-Rei, Julho de 1982.

Poema

Olhos d’água
Mário Márcio de Quadros
À memória de meus pais, falecidos em 1972.



      Amanhece...

                                                             Com vagar divago pela várzea.

                                                        O vento me toca leve e, breve, passa...



                                                                          Amanhece...


                                                                       Azul é o céu.

                                                   E verde: o olhar, os campos, a floração.


                                                                       Amanhece...


                                                              Diversas aves canoras

                                                                   d i s p e r s a s

                                                                      Cantam...


                                                                      No vau:

                                                              Mulheres fuxicam,

                                                 Esfregam, batem, e torcem roupas.


                                                                 Amanhece...

                                        Beija-flores, canários, sabiás... Enamoram-se,

                                              E anunciam, e encantam o raiar do dia.


                                                                   No vale

                                                              Homens ledos

                                                    Lepidamente lavram a terra:

                                                   E cavam, e cuidam, e plantam...



                                                              Amanhece...


                                                         A clareza do dia

                                                   Alumia e enleia a várzea.

                                                       A brisa me alisa

                                                      Espairece e arde:



                                                         S a u d a d e...









São João Del-Rei, Julho de 1978-2004.

Barbacena, Novembro de 2010.