segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Atividade Avaliada de Sociologia

PATERNIDADE
Décio Noronha
            A base da sociedade é a família. Porém...
            Pouca ou nenhuma atenção tem-se dado à família e aos papéis que cada membro nela exerce. A família é a unidade básica do desenvolvimento e da experiência, da realização ou do fracasso. Ela sofre modificações de tempos em tempos, sendo, em última instância, um produto da evolução. Por outro lado, permanece sempre um pouco da família velha na nova, atingindo uma espécie de imortalidade.
            Em cada mudança da estrutura social a família sofre, também, mudanças na sua gênese. Não trazemos dentro de nós somente uma família, mas várias famílias e, sendo assim, ela não possui só uma identidade, mas inúmeras. O papel de pai, o papel de mãe e o papel de filho só adquirem significado dentro de um determinado tempo e dentro de um processo extremamente dinâmico, que é a modificação da sociedade.
            É bom definirmos o que é um papel. De acordo com Moreno, “papel é a expressão social da conduta”. É uma unidade adaptativa da personalidade em ação.
            Todos nós sabemos, ou idealizamos o que é ser uma boa mãe, mas ficamos na dúvida do que vem a ser um bom pai. Uma boa mãe é aquela que vai ao encontro das necessidades vitais do recém-nato, seja protegendo-o, seja alimentando-o, ou cuidando dele em todos os seus primeiros momentos. E o pai? Talvez sua função seja muito mais a de proteger a mãe e o filho, prover o que eles necessitam enfrentar o perigo externo e lutar pela segurança deles. Talvez ele seja até o vínculo entre a família e o mundo externo. Esta é uma afirmação que pode se amoldar [se ajustar] a um determinado tipo de sociedade, especificamente aquela que denominamos de ocidental e cristã.
            A maternidade é um fato. A paternidade é apenas uma possibilidade. Pode-se ignorar a paternidade, mas nunca a maternidade. Dependemos do papel de mãe para se explicar o papel de pai. E uma primeira fase, mãe e filho são praticamente uma só pessoa. O pai é apenas uma figura subsidiária, completamente alijada de funções biológicas com relação à prole. Sobra-lhe apenas propiciar certo equilíbrio para que os primeiros relacionamentos interfamiliares se processem sem muitos traumas. O pai na nossa atual sociedade é, nestes primeiros relacionamentos, uma figura estranha, não por vontade expressa dele, mas por contingência de função que culturalmente lhe foi outorgada: a de provedor. O relacionamento mãe-filho exclui a figura paterna, pela própria natureza simbiótica deste relacionamento. A intromissão esporádica da figura paterna neste vínculo simbiótico dá uma nova direção a estes sentimentos.
            A criança, que possuía sentimentos ambivalentes em relação à figura materna, encontra um objeto novo para descarregar seu ódio, sua raiva, suas insatisfações para com o objeto primário. Estes sentimentos ambivalentes em relação à mãe, isto é, um mesmo objeto merecedor de amor e ódio externos depende do nível de frustrações que este objeto produz.
            A criança, que dentro de seu pensamento mágico, nega a existência de outros vínculos com o exterior, aos poucos vai percebendo que não está só no seu mundo. Que existe outra pessoa. Nada mais fácil que onipotentemente projetar seus medos e sua raiva para esta terceira pessoa, transformando a mãe em tudo que é “bom” e a outra pessoa – o pai – naquilo que é “mau”. A paternidade se processa de um modo nem sempre tranqüilo, mas carregado de sentimentos negativos. Verificamos que a interação da criança com seu pai, além de representar a mais tenra separação dela, criança, da sua mãe, simboliza a possibilidade de se relacionar com outras pessoas, fazendo-a perceber os vários elementos existentes na, até então, relação simbiótica.
            Tal situação pode gerar um sentimento de perda da mãe, que, na tentativa de reafirmar e defender seu papel, acaba por instigar uma dicotomia de funções, onde ela teria preponderantemente uma função biológica, e o pai, essencialmente social.
            Mas qual é a atuação do homem nesta sociedade que atualmente estamos vivendo? Como é que ele se sente dentro de uma sociedade que o valoriza pelo que possui em bens de consumo e não pelo que é como ser humano? Como é sentir-se apenas peça de uma engrenagem, com uma personalidade estereotipada e uma necessidade brutal de vencer, ser reconhecido, e, supervalorizar-se para adquirir o respeito da sociedade e de seus descendentes? Aqui caímos no mito do herói, do super-homem. Ao homem não cabe mais prover, mas super-prover, não mais proteger, mas super-proteger, não mais amar, mas super-amar. Podemos até entender, agora, a necessidade que ele tem de exigir o orgasmo de sua companheira na relação sexual. Nada mais é que o reflexo de sua insegurança e de seu medo do fracasso total. Daí o escape para a bebida, para o futebol, para o clube do bolinha, para aventuras sexuais e, até mesmo, para a família de origem, demonstrando claramente que deseja muito mais ser um filho  do que um pai, muito mais ser protegido do que proteger. Passa a ser o anti-herói, isto é, o protótipo do fracasso.
            É preciso que o homem compreenda que grandes modificações estão ocorrendo, que a força está sendo substituída pela técnica, pelo consenso, e que o conhecimento e o saber estão sendo distribuídos de modo razoavelmente igual para ambos os sexos. Estamos caminhando de modo lento, porém inexorável, para uma nova família. Felizmente, não mais se está construindo famílias com os moldes de antigamente. A própria dinâmica da sociedade, que transformou a família, que era extensiva, em uma família nuclear, está modificando papéis e funções, tanto do homem quanto da mulher. (Do livro Macho, masculino, homem: a sexualidade, o machismo e a crise de identidade do homem brasileiro. Diversos autores. Porto Alegre, L&PM, 1986. Págs. 34-38).
            COM BASE NO TEXTO ACIMA, E NA SUA EXPERIÊNCIA DE VIDA, RESPONDA CONFORME SE PEDE.
1 – A família é a base da sociedade, por quê? Justifique sua resposta com partes do texto.
2 – Explique: “não trazemos dentro de nós somente uma família, mas várias famílias...”
3 – Que se deve entender por “papel” social?
4 – O que é e para que “serve” um bom pai?
5 – A maternidade é um fato. A paternidade é apenas uma possibilidade, por quê?
6 – Culturalmente que função foi outorgada ao pai?
7 – No ocidente a mãe tem preponderantemente uma função biológica, e o pai, essencialmente social, por quê?
8 – Qual é a atuação do homem nesta sociedade que atualmente estamos vivendo?

Atividade Avaliada de Filosofia




DOS DESENCONTROS
Ana Maria Machado

            A flexibilidade que vemos hoje nos relacionamentos, esse leque de opções de modos de se relacionar, tem como contrapartida – talvez por uma pressão social proveniente do capitalismo e do individualismo – uma tendência à insatisfação. Em outras palavras, existe uma premência[1] de partir para a próxima relação. Então, apesar de tantas possibilidades, por que muitas vezes as pessoas não conseguem resolver certas questões dentro da relação em que já estão? Se dizemos que “família é tudo igual”, “mãe é tudo igual”, com o próximo parceiro ou companheiro as dificuldades não serão as mesmas? De onde surge a premência da troca? Creio que esse desencontro, esse equívoco deriva da expectativa, ilusória, de que o outro vem pronto para mim. Uma noção característica de nossa sociedade de consumo. Ou eu quero e me serve, ou vou à loja e troco. Quer dizer, por vezes perde-se a noção de que o relacionamento é uma construção, um contrato renovável em que as regras se alteram durante sua vigência, altera-se o tipo de relação que se quer etc. É preciso conversar franca e abertamente; acho que falta falar mais, dialogar. O amor nasce da imaginação expressa em palavras. Quando não se conversa sobre isso ou quando se ridiculariza o assunto, dizendo que discutir a relação é coisa de mulher, aí acabou, sai cada um para um lado, fazer outra coisa. Não houve um investimento.
            Acho que a busca permanente de alguns decorre da suposição de que o outro está pronto e que esse outro é sua “metade da laranja”, é sua “alma gêmea” ou não é nada – é só trocar, devolve-se este para pegar um no seu número ou em outra cor ou modelo. Mas as coisas não são assim. Os relacionamentos são dinâmicos, alteram-se, são repactuados, e é essa compreensão que permite seu crescimento e, eventualmente, sua manutenção.
            Por outro lado, quantas e quantas vezes não se vêem gente que teve uma bela relação durante dez, quinze anos, mas que, num determinado momento, percebe que não dá mais, sai para outra, ou foram às circunstâncias que mudaram, e as pessoas acham que o casamento foi um fracasso. Não foi, durou aquele tempo. As pessoas mudaram no decorrer da vida. Nós estamos mais longevos, estamos vivendo experiências que não são apreendidas da mesma maneira pelos parceiros, por mais que sejam íntimos, por mais que se acompanhem. Quando eles conversam muito, é mais fácil seguir juntos, mas quando cada um de nós leva sua vida num compartimento estanque (e isso não tem nada a ver com morar junto ou não; não é uma questão de tipo de família), enfim, quando não se dialoga sobre o que importa, e não se compartilha o entusiasmo por uma coisa, uma dúvida sobre outra, um sofrimento, uma aflição, então aí vai aumentando o distanciamento. Chega um dia em que eles concluem que já não têm tanto em comum. Mas isso não quer dizer que tudo que ficou para trás tenha sido um fiasco. Quis falar desse cenário porque muitas vezes existe uma cobrança da pessoa consigo mesma, uma tendência de se culpar. (MACHADO, Ana Maria & SCLIAR, Moacyr. Amor em texto, amor em contexto: um diálogo entre escritores. Campinas, São Paulo : Papirus 7 Mares, 2009. (Coleção Papirus Debates). PP. 46-48).
                A PARTIR DA LEITURA DO TEXTO ACIMA, PROCURE RESPONDER CONFORME SE PEDE.
1 – Segundo a autora, de onde surge a premência (a urgência) da troca [de parceiros]?
2 – Discutir a relação é coisa de mulher? Justifique sua resposta com partes do texto.
3 – As coisas são assim... O outro é nossa “metade da laranja”, ou não é nada disso? Justifique sua resposta.
4 – Um casamento que durou dez, quinze, vinte anos e depois termina, foi um fracasso?
5 – Para a autora, o que é fundamental para se sustentar um relacionamento duradouro? Você concorda? Justifique-se


[1] Premência: urgência.