domingo, 24 de outubro de 2010

Sociologia: Professor Mário Márcio

COMO FUNCIONA A SOCIEDADE?

Pérsio Santos de Oliveira

Introdução:

     Segundo a definição de Thomas Bottomore, a sociedade é uma rede de relações entre pessoas, grupos sociais e instituições. Uma determinada categoria trabalhista em greve, por exemplo, nos transmite a ideia de um conjunto dinâmico formado pelas relações sociais, que interligam e envolvem as pessoas em uma permanente troca de contatos sociais. Isso nos leva também à noção de processo e de transformações ao longo do tempo. Os processos sociais podem contribuir tanto para a coesão da sociedade quanto para a eclosão de conflitos e enfrentamentos em seu interior. Comte e Durkheim enfatizavam a importância da coesão e do consenso na sociedade. Marx, ao contrário, priorizava o conflito em sua forma de luta de classes. Para ele, essa luta constituía o verdadeiro motor que move as engrenagens da História.


2 – As relações sociais
     Alguns estudiosos definem relação social como a forma assumida pela interação social em cada situação concreta. Assim, um professor tem um tipo de relação social com seus alunos, a relação pedagógica. Duas pessoas em uma operação de compra e venda estabelece outro tipo de relação social, a relação comercial. As relações sociais podem ser ainda políticas, religiosas, culturais, familiares, etc.
     Da mesma forma que a interação social, a relação social tem por base um comportamento recíproco entre duas ou mais pessoas. Nos termos de Max Weber, essa reciprocidade é dotada de um sentido comum às pessoas envolvidas. Segundo essa definição, as relações autoridade-obediência, por exemplo, são relações sociais, pois envolvem pessoas que exercem a autoridade e pessoas que obedecem, pois aceitam a autoridade reivindicada pelas primeiras, ou se submetem a ela, às vezes a contragosto.
     Em uma perspectiva diferente, Karl Marx considerava que as relações sociais eram decorrentes das relações de produção, ou seja, das relações desenvolvidas no processo produtivo, material, da sociedade. Um exemplo típico dessas relações seriam as que existem entre o dono de uma fábrica e seus empregados, ou ainda entre um dono de terra e seus arrendatários (pessoas que alugam um lote dessa terra e pagam uma quantia regular ao proprietário por esse arrendamento, ou aluguel).
     Para Karl Marx, contudo, as relações sociais não se restringem ao processo de produção. Este último constitui a base em que elas se apoiam, mas as relações sociais são mais amplas. Elas estão também na sala de aula, nos laços familiares, nos vínculos entre as instituições e entre estas e as pessoas, nos laços de amizade e assim por diante. Dessa forma, pode-se dizer, como Thomas Bottomore no início do texto, que “a sociedade é uma rede de relações entre indivíduos, entre grupos sociais e entre instituições”, ou seja, uma rede de relações sociais.

A RELAÇÃO SOCIAL EM MAX WEBER
     Por “relação” social deve-se entender uma conduta de várias pessoas – referida reciprocamente conforme seu conteúdo significativo, orientando-se por essa reciprocidade [conteúdo significativo é o sentido, ou significado, atribuído pelas pessoas à sua ação. Na relação social existe reciprocidade, ou seja, cada parte envolvida atribui um sentido, ou significado, à ação da outra].
     Um mínimo de reciprocidade nas ações é, portanto, uma característica conceitual da relação social. O conteúdo pode ser mais diverso: conflito, inimizade, amor sexual, amizade, piedade, troca no mercado, “ruptura” de um pacto, “concorrência” econômica, erótica ou de outro tipo, etc. O conceito, pois, nada diz sobre se entre os agentes existe “solidariedade” ou exatamente o contrário. [...]
    Não afirmamos de modo algum que num caso concreto os participantes da ação mutuamente referida ponham o mesmo sentido nessa ação, ou que adotem a atitude da outra parte. O que em um é amizade, amor, piedade, fidelidade contratual, pode encontra-se no outro com atitudes completamente diferentes. [Entretanto, mesmo nesses casos, existe reciprocidade em relação ao sentido atribuído à ação dos agentes], na medida em que o agente pressupõe uma determinada atitude de seu parceiro diante dele e nessa expectativa orienta sua conduta, o que poderá ter consequências para o desenrolar da ação e para a configuração da relação. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo : Editora Ática, 2010. Pág. 57-60.
     Com base nos textos, procure responder:
1 – Segundo Thomas Bottomore, o que é sociedade?
2 – Que se deve entender por relação social?
3 – O que sustenta a relação social?
4 – Para Max Weber, o que é reciprocidade?
5 – Como Karl Marx considera as relações sociais?
6 – Explique o conceito de relação social tal como foi elaborado por Max Weber.
7 – Para Weber, as partes envolvidas numa relação social atribuem o mesmo significado a essa relação? Explique sua resposta.

Filosofia - Professor Mário Márcio.

SORTE NÃO, COMPETÊNCIA.

Antônio Roberto
     Quando acreditamos em algo falso, a coisa continua falsa, mas as consequências para nossas vidas são verdadeiras. À medida que alguém acredita na sorte e no azar, por exemplo, o resultado é a acomodação e a passividade. Se nosso destino já está traçado, não precisamos nos esforçar, nem enxergar as oportunidades, nem aprender onde erramos pelo fato de nada dar certo, nem refazer nossas escolhas. O que chamamos de sorte é apenas aproveitar na hora certa, as oportunidades que a vida nos oferece. Azar é o contrário disso. Há uma parábola muito antiga e muito bonita a esse respeito, de um autor desconhecido.
     Havia um homem que, como a maioria das pessoas, considerava-se absolutamente sem sorte. Tudo o que ele fazia dava errado. Quando ia plantar suas sementes, os passarinhos as comiam ou a chuva forte as levava e, quando isso não ocorria, a seca acabava com suas plantações. Ele reclamava o tempo todo. Suas queixas contínuas faziam as pessoas se afastarem dele. Todos o consideravam um chato e, com isso, ele vivia muito só. Reforçando sua crença no azar. E ele não conseguia entender a razão de tanta falta de sorte.
     Um dia, resolveu tomar uma atitude e ir procurar um grande mestre que vivia em uma floresta, a muitos quilômetros de sua cidade. Depois de andar muitos dias, o homem logo ao entrar na floresta se deparou com um lobo muito magro, sem pelos, que lhe falou: - Moço me ajude. Não sei o que está havendo comigo. Estou sem forças, não consigo ir ao rio beber água. Dessa forma vou morrer. – Não posso ajuda-lo, disse o homem, estou indo atrás de um mestre para me responder sobre o meu azar na vida. – Então, pergunte ao mestre o que está ocorrendo comigo, falou o lobo. E o homem continuou seu caminho.
     Já no meio da floresta, ao tropeçar numa raiz, viu uma árvore quase sem folhas, com os galhos retorcidos e a casca soltando do tronco. Ao ver o espanto do homem, a árvore disse: - Não sei o que está acontecendo comigo. Estou muito doente. Há seis meses minhas folhas estão caindo. Depois da conversa, ela implorou ao homem para pedir ao mestre uma solução para seus problemas. Ele continuou sua jornada e, depois de alguns dias andando, chegou a um vale cheio de flores de várias cores e perfumes. Ele nem reparou nisso e chegou a uma casa. Diante dela estava uma moça lindíssima, que, depois de uma longa conversa, também lhe pediu um favor: - Pergunte ao mestre por que sinto tanto vazio no peito, sem nenhum motivo. O que devo fazer? Mais alguns dias de caminhada... E o homem encontrou o mestre sábio.
     O homem contou sua triste vida e o mestre lhe disse: - Sua sorte está no mundo, nas pessoas, nas coisas, nas circunstâncias. Quando o homem ia saindo, o mestre lhe perguntou: - Você está esquecendo-se de alguma coisa? Não quer resposta para uma árvore, um lobo e uma jovem?
     O homem voltou, ouviu as respostas e saiu em disparada. Na volta, encontrou-se com a moça: - O mestre disse que minha sorte está no mundo e o que você sente é solidão; se você encontrar um companheiro será muito feliz. A moça, então, lhe perguntou: - Você quer ser esse companheiro? – Não, respondeu o homem, não foi para ficar aqui que fiz essa viagem. Saiu correndo e encontrou com a árvore, que lhe cobrou a resposta do mestre: - O mestre disse que você está morrendo porque no meio de suas raízes há uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. Se você cavar e tirar esse tesouro você será saudável novamente.
     - Faça isso para mim, você pode ficar com o tesouro. – O mestre falou que minha sorte está no mundo, não posso perder tempo. Adeus. E saiu correndo de volta para casa. Atravessando o resto da floresta encontrou o lobo, que estava mais magro ainda e mais fraco.
     - O mestre mandou lhe dizer que você não está doente. Você tem fome e, como não tem forças para caçar, vai morrer aí mesmo, a não ser que algum estúpido passe por aqui e você consiga comê-lo. O lobo reunindo o resto de suas forças deu um pulo e comeu o homem “sem sorte”.
     Acreditar em sorte ou azar é uma forma de cegueira. As oportunidades e as ameaças estão à nossa volta, todo tempo. Enquanto procuramos um culpado (o destino) para nossa vida, as oportunidades passam. Nada fazemos. Não mudamos com nossos erros e ficamos à mercê dos infortúnios. ROBERTO, Antônio. Sorte não, competência. Estado de Minas. Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2010. Caderno BEMVIVER, p. 2.
     Com base no texto, procure responder conforme se pede:

1 – Por que “acreditar em sorte ou azar é uma forma de cegueira”?

2 – Que se deve entender por “sorte”, segundo o autor?

3 – O homem da fábula era uma pessoa azarenta? Justifique sua resposta com partes do texto.

4 – E você é sortudo, ou um azarão? Toda sorte tem, quem acredita nela... É verdade? Escreva um testículo dando seu parecer.