SORTE NÃO, COMPETÊNCIA.
Antônio Roberto
Quando acreditamos em algo falso, a coisa continua falsa, mas as consequências para nossas vidas são verdadeiras. À medida que alguém acredita na sorte e no azar, por exemplo, o resultado é a acomodação e a passividade. Se nosso destino já está traçado, não precisamos nos esforçar, nem enxergar as oportunidades, nem aprender onde erramos pelo fato de nada dar certo, nem refazer nossas escolhas. O que chamamos de sorte é apenas aproveitar na hora certa, as oportunidades que a vida nos oferece. Azar é o contrário disso. Há uma parábola muito antiga e muito bonita a esse respeito, de um autor desconhecido.
Havia um homem que, como a maioria das pessoas, considerava-se absolutamente sem sorte. Tudo o que ele fazia dava errado. Quando ia plantar suas sementes, os passarinhos as comiam ou a chuva forte as levava e, quando isso não ocorria, a seca acabava com suas plantações. Ele reclamava o tempo todo. Suas queixas contínuas faziam as pessoas se afastarem dele. Todos o consideravam um chato e, com isso, ele vivia muito só. Reforçando sua crença no azar. E ele não conseguia entender a razão de tanta falta de sorte.
Um dia, resolveu tomar uma atitude e ir procurar um grande mestre que vivia em uma floresta, a muitos quilômetros de sua cidade. Depois de andar muitos dias, o homem logo ao entrar na floresta se deparou com um lobo muito magro, sem pelos, que lhe falou: - Moço me ajude. Não sei o que está havendo comigo. Estou sem forças, não consigo ir ao rio beber água. Dessa forma vou morrer. – Não posso ajuda-lo, disse o homem, estou indo atrás de um mestre para me responder sobre o meu azar na vida. – Então, pergunte ao mestre o que está ocorrendo comigo, falou o lobo. E o homem continuou seu caminho.
Já no meio da floresta, ao tropeçar numa raiz, viu uma árvore quase sem folhas, com os galhos retorcidos e a casca soltando do tronco. Ao ver o espanto do homem, a árvore disse: - Não sei o que está acontecendo comigo. Estou muito doente. Há seis meses minhas folhas estão caindo. Depois da conversa, ela implorou ao homem para pedir ao mestre uma solução para seus problemas. Ele continuou sua jornada e, depois de alguns dias andando, chegou a um vale cheio de flores de várias cores e perfumes. Ele nem reparou nisso e chegou a uma casa. Diante dela estava uma moça lindíssima, que, depois de uma longa conversa, também lhe pediu um favor: - Pergunte ao mestre por que sinto tanto vazio no peito, sem nenhum motivo. O que devo fazer? Mais alguns dias de caminhada... E o homem encontrou o mestre sábio.
O homem contou sua triste vida e o mestre lhe disse: - Sua sorte está no mundo, nas pessoas, nas coisas, nas circunstâncias. Quando o homem ia saindo, o mestre lhe perguntou: - Você está esquecendo-se de alguma coisa? Não quer resposta para uma árvore, um lobo e uma jovem?
O homem voltou, ouviu as respostas e saiu em disparada. Na volta, encontrou-se com a moça: - O mestre disse que minha sorte está no mundo e o que você sente é solidão; se você encontrar um companheiro será muito feliz. A moça, então, lhe perguntou: - Você quer ser esse companheiro? – Não, respondeu o homem, não foi para ficar aqui que fiz essa viagem. Saiu correndo e encontrou com a árvore, que lhe cobrou a resposta do mestre: - O mestre disse que você está morrendo porque no meio de suas raízes há uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. Se você cavar e tirar esse tesouro você será saudável novamente.
- Faça isso para mim, você pode ficar com o tesouro. – O mestre falou que minha sorte está no mundo, não posso perder tempo. Adeus. E saiu correndo de volta para casa. Atravessando o resto da floresta encontrou o lobo, que estava mais magro ainda e mais fraco.
- O mestre mandou lhe dizer que você não está doente. Você tem fome e, como não tem forças para caçar, vai morrer aí mesmo, a não ser que algum estúpido passe por aqui e você consiga comê-lo. O lobo reunindo o resto de suas forças deu um pulo e comeu o homem “sem sorte”.
Acreditar em sorte ou azar é uma forma de cegueira. As oportunidades e as ameaças estão à nossa volta, todo tempo. Enquanto procuramos um culpado (o destino) para nossa vida, as oportunidades passam. Nada fazemos. Não mudamos com nossos erros e ficamos à mercê dos infortúnios. ROBERTO, Antônio. Sorte não, competência. Estado de Minas. Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2010. Caderno BEMVIVER, p. 2.
Com base no texto, procure responder conforme se pede:
1 – Por que “acreditar em sorte ou azar é uma forma de cegueira”?
2 – Que se deve entender por “sorte”, segundo o autor?
3 – O homem da fábula era uma pessoa azarenta? Justifique sua resposta com partes do texto.
4 – E você é sortudo, ou um azarão? Toda sorte tem, quem acredita nela... É verdade? Escreva um testículo dando seu parecer.
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