quarta-feira, 16 de junho de 2010

Filosofia: "O sentido da vida"

O SENTIDO DA VIDA

Antônio Roberto

         Inúmeras pessoas se queixam da falta de sentido na vida. Essa reclamação só ocorre em momentos de sofrimento, desilusão, depressão e estresse. Nunca nos perguntamos pelo sentido da vida quando estamos felizes, usufruindo algum prazer, em estado de graça. A vida, no entanto, não tem, em si mesma, nenhum sentido. É nascer, viver e morrer. Essa afirmação, no entanto, não guarda nenhum pessimismo ou frustração. Ao mesmo tempo, é justamente pelo fato de a vida não ter nenhum sentido que nós podemos criar um sentido para a nossa vida – escrever os próprios sonhos, criar os nossos caminhos, construir uma existência própria.
         Duas condições são básicas para um sentido à vida. Primeiramente não aceitar a pressão social para um sentido padronizado da vida. Cada um de nós é um indivíduo e, por isso, singular. Cada um tem sua particularidade, gostos, opções... E a construção vital deve obedecer a essa singularidade. A sociedade tende à padronização e estabelece regras que nos farão felizes. A autonomia humana, ao contrário, estabelece que a felicidade é pessoal, intransferível e inalienável. A felicidade ou o sentido da vida é personalizado. Quando muito, posso apenas partilhar esse sentido com o sentido da vida de outras pessoas.
         A segunda condição é saber que não adianta procurar fora de nós mesmos o rumo da existência. Não podemos pegar carona na vida de outras pessoas. Os pais, cujo sentido existencial está nos filhos, o marido ou a mulher, cuja graça de viver depende totalmente do outro, as pessoas que depositam todo o valor da vida no sucesso social, no dinheiro, no poder, no domínio e controle de outrem estão fadados, mais cedo ou mais tarde, a um vazio e à perda do sentido da vida.
         O amar a si próprio e a aceitação de si mesmo nos fazem ter sintonia com nosso coração, intuição e desejos, que determinam nosso rumo na vida. Como a vida só existe no momento presente, o seu sentido é também sempre agora. O contrato feito com nossos sentimentos e com nosso corpo é o alicerce seguro para que nossa cabeça planeje a entrada. Na mesma proporção do auto-amor, deve ser considerado o amor às outras pessoas. É impossível aprender, significativamente, o amor sem a partilha, sem soltar as amarras do coração e deixar que nossa luz envolva quem se aproximar.
         A inteireza, a totalidade, o envolvimento com o outro são sinais de rumo, de significado. Dizia o Pequeno Príncipe: “Só se vê bem com o coração”. A lógica e a racionalidade, desvinculadas da emoção, nos conduzem a um sentido da vida periférico, sem sustentação...
         A vida é emocional. Nós somos aquilo que sentimos. As emoções, por outro lado, é uma bússola. Elas nos dizem se estamos no rumo errado. As emoções dolorosas, chamadas de negativas, nos convidam a uma mudança de rota. As positivas nos mostram o caminho certo. Um outro aspecto relevante do sentido da vida é sua relação com a aceitação ou não da realidade.
         Certa vez, um jovem deprimido, de 24 anos, me apresentava a seguinte questão:
-         “Que sentido tem a vida? Se um dia vou morrer, pra que estudar?”.
Nós não escolhemos nascer, não escolhemos morrer. A única escolha que nos sobrou foi como viver. Se aceitarmos a realidade tal qual ela é, com seus altos e baixos, seus verões e invernos, nossa vida terá a totalidade dos opostos e sentiremos um imenso prazer no fato de estarmos vivos. Se, ao contrário, de maneira onipotente, queremos uma vida idealizada e perfeita, sem erros, sem perdas e sem dor, nossa existência se torna um recuo, uma fuga, um medo de viver.
O grande problema humano não é a perda, a doença ou a morte, mas o medo dessas coisas. Aceitar a fragilidade humana e não resistir à realidade nos faz participantes da melhoria do mundo e protagonistas ativos dessa brincadeira, que é viver. Há coisas que estão sob nosso controle e outras que não estão. A felicidade, o sentido dado à nossa vida, vem da nossa disponibilidade. Viver, como diz Guimarães Rosa, é muito perigoso. Um sim aos riscos, ao desconhecido e ao inesperado nos faz participantes esperançosos do mistério da realidade. A vida é um mistério para ser vivido e não um enigma a ser decifrado. Enquanto nossa cabeça tentar explicar o mundo, de onde viemos e para onde vamos, perdemos o sol, as cores, o afeto, o gosto, o tato, os sons oferecidos ao nosso corpo. A vida é apenas para ser saboreada.” [Estado de Minas – Domingo, 4 de janeiro de 2004, Caderno Bem Viver, página 2.]

COM BASE NA LEITURA DO TEXTO ACIMA, RESPONDA:
1. A vida, segundo Antônio Roberto, “não tem, em si mesma, nenhum sentido...” Por outro lado, o autor fala, também, que essa afirmação “não guarda nenhum pessimismo ou frustração...”, por quê?
2. “Duas condições são básicas para um sentido à vida”, quais são elas, segundo o autor?
3. “... amar a si próprio e a aceitação de si mesmo nos fazem ter sintonia com nosso coração...”, por quê? Justifique sua resposta com partes do texto.
4. “Só se vê bem com o coração”, por quê?
5. “A vida é emocional”, o que isso significa?
6. “O grande problema humano não é a perda, a doença ou a morte, mas o medo dessas coisas”, por quê?






Filosofia: "Mulheres: um tipo de escravidão?"

Mulheres: um tipo de escravidão?
 Mário Schmidt
            “Desde os tempos da colonização, a sociedade tinha uma organização em que os homens possuíam mais poder e mais prestígio que as mulheres. Os homens tinham mais estudo, ocupavam os cargos mais importantes, tomavam todas as decisões políticas e econômicas. As leis e os costumes reforçavam o domínio masculino. As crianças eram educadas para aceitar a superioridade dos homens como algo natural.
            As relações [entre os homens e as mulheres] podiam até ser violentas. Mulheres eram espancadas, estupradas, assassinadas. No casamento, tinham de se manter submissas [a seus pais e a seus maridos e/ou companheiros].
            As mulheres das classes média e alta nunca andavam sozinhas na rua. Deviam estar sempre acompanhadas por um parente ou uma escrava, imagine a dificuldade que tinham para namorar! Os rapazes e as moças trocavam olhares discretos na rua, no teatro, no salão de baile. Então, o rapaz visitava o pai da moça e a pedia em noivado. Se o pai e a escolhida concordassem, eles podiam se encontrar. Davam-se as mãos e viam-se sempre na presença de um adulto. Claro que sempre achavam uma oportunidade para, escondidos, dar um beijo e trocar um carinho mais forte. Mas a moça se casava virgem.
            As mocinhas eram educadas para casar e obedecer ao marido. Nas classes média e alta, aprendiam pouco além de ler e escrever. O que valia era saber costurar, tocar piano, agradar ao futuro esposo. Nas classes mais baixas, elas estudavam menos ainda. O analfabetismo era maior entre as mulheres [pobres]. Tinham de trabalhar (como costureiras, lavadeiras, criadas), cuidar da família e, do mesmo modo, aceitar as ordens do marido.
            Algumas mulheres das classes média e alta buscaram a emancipação nos estudos. Formaram-se as primeiras advogadas e médicas brasileiras. Mas as leis proibiam sua atuação profissional!” (SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo : Nova Geração, 1999. Vol. 3, pág. 292)
           
A partir do que é apresentado pelo autor do texto acima, procure responder:
1.0   Desde os tempos da colonização, os homens possuíam mais poder e mais prestígio que as mulheres, por quê? Justifique sua resposta citando partes do texto.
2.0   De que forma, segundo o autor, as crianças [sobretudo as meninas] eram educadas?
3.0   As mulheres eram e têm sido até hoje vítimas de violência, por quê? Você acha isso natural? Justifique sua resposta.
4.0   Os homens são “superiores” às mulheres? Justifique sua resposta.
5.0   Meninos e meninas estudavam em escolas separadas. As meninas recebiam menos instrução que os meninos. Que habilidades as mulheres deviam desenvolver, por quê?
6.0   Trabalhando em escolas públicas (Municipal e Estadual), tenho percebido que alguns adolescentes (bem poucos) se levam mais a sério nos estudos (e na vida) que outros A seu ver, por que isso acontece? Algumas pessoas são menos inteligentes (e menos capazes) que outras? Ou será que pela força (na base da “porrada”, falta de educação, desrespeito às regras morais e sociais) os indivíduos serão absorvidos pelo mercado de trabalho? Ou essa história de trabalhar, constituir uma família, ser competente naquilo que escolheu fazer na vida, ser uma pessoa de Fé, não é mais importante? Ou ainda: ser irresponsável, não assumir a própria vida, viver escorado em leis [como o ECA, por exemplo, que reconhece direitos e ignora os deveres dos adolescentes], caracteriza a nova geração?
Redija um texto [de 15 a 25 linhas] discutindo essas questões.